Aspectos teóricos e metodológicos da competência em informação voltado às universidades brasileiras

Resumo: A educação representa o processo pelo qual se possibilita que os seres humanos se insiram na sociedade humana, historicamente construída e em construção. Sua tarefa é inserir as crianças e jovens no avanço civilizatório e na problemática do mundo de hoje, através da reflexão, do conhecimento, da análise, da compreensão, da contextualização e do desenvolvimento de habilidades e atitudes (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002).
No século XXI, novas representações de aprendizagem na área educacional, tais como o aprender a aprender e o aprendizado ao longo da vida, foram incorporadas à formação dos indivíduos, sendo uma preocupação que envolve diversos segmentos profissionais voltados para o cenário educacional. Neste sentido, a Ciência da Informação e a Biblioteconomia também vêm discutindo a este respeito, bem como acerca do desenvolvimento de conhecimento e habilidades acerca do universo informacional.
Esta discussão tem ocorrido por meio da competência em informação, focando a informação como recurso educacional, de forma a contribuir para a aprendizagem dos indivíduos através de programas educacionais que os auxiliam a manusear a informação (MATA, 2009).
A competência em informação é apresentada no sistema ensino como uma nova proposta de modelo educacional, formal e informal, que pode ser manifestada através de um conjunto de “boas práticas”, que possibilita aos educandos a construção de uma aprendizagem permanente visando à capacitação do sujeito ao planejamento de estratégias para a construção do seu saber, à tomada de decisão para avaliação em uma nova competência leitora-escritora e à inclusão social para o desenvolvimento de um espírito solidário, de modo a propiciar um comportamento sob parâmetros deontológicos sólidos e a supressão dos riscos da brecha digital e da ruptura social (MARZAL, 2009).
Conforme a ACRL (2000), a competência em informação é necessária às pessoas de todas as áreas, de todos os níveis educacionais e em todos os ambientes de aprendizagem e trabalho, porquanto que tem por objetivo propiciar a capacitação contínua dos indivíduos, pois, ao buscarem os conteúdos informacionais e ampliarem as suas pesquisas, os indivíduos se tornam mais autô¬nomos e assumem um controle maior sobre o próprio processo de aprendizagem.
Neste sentido, ressalta-se a importância de implementação de programas de competência em informação nas instituições de ensino, desde o ensino primário até o ensino superior, de forma que os alunos desenvolvam habilidades referentes ao universo informacional conforme o período escolar.
As instituições de ensino superior, juntamente com as bibliotecas universitárias, devem voltar seus esforços para a criação de iniciativas de competência em informação voltadas para a aprendizagem de seus estudantes. Auxiliar as pessoas a serem capazes de aprender a aprender ao longo de sua vida é primordial para a missão dessas instituições, refletindo-se cada vez mais na qualidade profissional dos graduados. Conforme SCONUL (2001), a competência em informação estende a aprendizagem do estudante além da sala de aula e tem como objetivo ser um apoio aos indivíduos em sua aprendizagem em todas as circunstâncias da vida.
Os serviços realizados pelas bibliotecas incluem atividades educacionais direcionadas aos estudantes, orientando-os na utilização de recursos e fontes informacionais através do oferecimento de programas de competência em informação. Gómez Hernández (2000) acredita que programas de competência em informação seja um serviço/atividade básico a ser prestado pelas bibliotecas aos seus usuários. Uribe Tirado (2014) complementa que a competência em informação deve ser “[...] parte fundamental do currículo universitário, representada em diferentes modalidades e mediações do ensino-aprendizagem”.
Neste contexto, os bibliotecários possuem um papel fundamental, visto que tem condições de articular projetos/programas na instituição em que atua, de forma que a biblioteca possa ter um papel ativo no processo de ensino-aprendizagem. Para Lecardelli e Prado (2006, p. 40), “[...] os profissionais da informação podem contribuir sobremaneira nesse campo, permitindo e criando estratégias que facilitem o acesso informacional aos envolvidos no processo educacional”, tornando-se, por sua vez, “[...] um aliado do processo educacional, facilitando a inserção de programas específicos sobre competência em informação, procurando familiarizar os docentes com as técnicas e estruturas do conhecimento [...]”.
Para a execução dos programas de competência em informação é necessário o trabalho em conjunto entre os profissionais da instituição, de acordo com a ACRL (2000):

Através de suas aulas e do estímulo à discussão, os professores estabelecem o contexto para a aprendizagem; também inspiram os estudantes para que explorem o desconhecido, oferecem guia e conselho sobre como satisfazer melhor as necessidades de informação e controlam o progresso dos estudantes. Os bibliotecários coordenam a avaliação e seleção dos recursos intelectuais para os programas e serviços; organizam e mantêm as coleções e pontos de acesso à informação; e oferecem formação para os estudantes e professores na hora de buscar a informação. Os administradores criam as oportunidades para a colaboração e o desenvolvimento profissional permanente dos professores, bibliotecários e outros profissionais que iniciem programas de competência em informação, administram o planejamento e os orçamentos de tais programas e oferecem os recursos necessários para mantê-los.

De forma geral, os programas de competência em informação devem ser planejados, estar de acordo com os objetivos e missão da instituição, contar com o apoio de diversos membros da instituição, isto é, recursos humanos, bem como recursos físicos e tecnológicos, dentre outros.
No contexto brasileiro, Mata (2016) analisou as práticas educacionais realizadas em bibliotecas universitárias por meio dos trabalhos apresentados em três edições do Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias e no Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação, evento destinado aos profissionais da informação. A autora constatou a existência de 25 trabalhos no primeiro evento e 18 trabalhos no segundo, considerando-se um número reduzido. As atividades variam bastante, desde as mais esporádicas até as mais sistematizadas e contínuas, incluindo disciplinas, cursos presenciais e à distância, programas, projetos, oficinas, treinamentos e visitas guiadas.
Em vista disso, a questão que surge é se um modelo de competência em informação com base nas especificidades das universidades brasileiras pode auxiliar no planejamento e implementação de programas desta natureza, com a finalidade de consolidar e sistematizar as práticas educacionais voltadas para o desenvolvimento de habilidades informacionais nos estudantes.
Desta forma, na presente pesquisa, propõe-se o desenvolvimento de um modelo para a implementação de programas de competência em informação em instituições de ensino superior no âmbito brasileiro junto a um manual detalhado. O modelo terá como base a estrutura das instituições de ensino superior (universidades) de caráter público, que, normalmente, são constituídas por uma biblioteca central e várias bibliotecas setoriais.
Conforme Pasadas Ureñas (2003), a literatura sobre a Competência em informação inclui a construção de modelos teóricos, desenvolvimento de padrões e diretrizes que sirvam de catalisadores do processo de aquisição da competência em informação e dos fatores críticos adquiridos a partir das experiências comprovadas e que tiveram êxito, de acordo com os métodos utilizados.

REFERÊNCIAS

ASSOCIATION OF COLLEGE AND RESEARCH LIBRARIES. Information literacy competency for higher education. Chicago: ALA, 2000. Disponível em: <http://www.ala.org/acrl/ilcomstan.html > Acesso em: 06 set. 2015.

GÓMEZ HERNÁNDEZ, José A. Alfabetización informacional: cuestiones básicas. Anuário ThinkEPI, p. 43-55, 2007.

LECARDELLI, J.; PRADO, N. S. Competência em informação no Brasil: um estudo bibliográfico no período de 2001 a 2005. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação: Nova Série, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 21-46, dez. 2006.

MARZAL, M. Á. Evolución conceptual de alfabetización eN información desde la alfabetización en su perspectiva educativa y bibliotecaria. Investigación Bibliotecológica, CUIB, v. 23, n. 47, p. 129-160, jan./abr. 2009.

MATA, M. L. A Competência em informação de graduandos de biblioteconomia da região sudeste: um enfoque nos processos de busca e uso ético da informação. 2009. 167 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2009.

MATA, M. L. Análise das práticas educacionais dos bibliotecários em bibliotecas universitárias com enfoque na educação de usuários e na competência em informação. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, 27, 2016, Salvador. Anais eletrônicos... Salvador: UFBA, 2016.

PASADAS UREÑAS, C. El certificado internacional de alfabetización en información: ¿ un reto profesional global? In: IFLA GENERAL CONFERENCE AND COUNCIAL, 69, 2003, Berlim. Anais eletrônicos... Disponível em: http://archive.ifla.org/IV/ifla69/papers/202s-Pasadas_Urena.pdf. Acesso em: 22 set. 2015.

PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, L. G. C. Docência no ensino superior. v. 1. São Paulo: Cortez, 2002.

SCONUL. Aptitudes para el acceso y uso de la información en la enseñanza superior: la postura da Sconul. Boletín de la Asociación Andaluza de Bibliotecarios, n. 62, p. 63-77, mar. 2001.

URIBE TIRADO, A. 75 lições aprendidas de programas de competência em informação em universidades da Ibero-America: 2009-2013. REBECIN: Revista Brasileira de Educação em Ciência da Informação, v. 1, n. 2, p. 4-18, jul./dez. 2014.

Data de início: 15/10/2016
Prazo (meses): 48

Participantes:

Papelordem decrescente Nome
Aluno Mestrado MARCELA AGUIAR DA SILVA NASCIMENTO
Colaborador MERI NADIA MARQUES GERLIN
Coordenador MARTA LEANDRO DA MATA
Transparência Pública
Acesso à informação

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